Melinda Gates, uma das mulheres mais poderosas do mundo, relata como o empoderamento a transformou | Sextante
Melinda Gates, uma das mulheres mais poderosas do mundo, relata como o empoderamento a transformou
HISTÓRIAS REAIS

Melinda Gates, uma das mulheres mais poderosas do mundo, relata como o empoderamento a transformou

Em “O momento de voar”, Melinda conta como conhecer a realidade de outras mulheres mudou sua vida. Ao lado do marido, Bill Gates, ela está à frente da maior instituição de filantropia privada do mundo.

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Em “O momento de voar”, Melinda conta como conhecer a realidade de outras mulheres mudou sua vida. Ao lado do marido, Bill Gates, ela está à frente da maior instituição de filantropia privada do mundo.

As lutas feministas e raciais, especialmente, resgataram essa palavra tão forte: empoderamento. Ela – a palavra – se refere a uma ação feita a partir de uma consciência sobre o  coletivo. Empoderar-se é, para começo de conversa, conscientizar-se. Justamente por projetar mudanças, é sabido que a consciência é um temor constante de estruturas de opressão, principalmente aquelas estabelecidas com o tempo. Eu ouvi alguém dizer “patriarcado”? Apenas esse vislumbre realça o impacto do empoderamento feminino no mundo. É sobre ele que Melinda Gates fala em “O momento de voar”

Atenção às mulheres

O sobrenome não entrega tudo sobre ela. Melinda nasceu em Dallas, em 1964, e começou a trabalhar na Microsoft quando tinha pouco mais de 20 anos. À época, o lugar ainda era uma “empresa de software relativamente pequena”. Ela acompanhou de perto o crescimento da marca, uma das mais valiosas do mundo, da qual futuramente se tornou diretora-geral de produtos da informática. Casada com Bill Gates, com quem tem três filhos, Melinda atualmente se dedica à filantropia e é nome constante em listas de pessoas mais influentes/poderosas do mundo.

Criada em 2000, a Fundação Bill & Melinda Gates é a maior instituição de filantropia privada do mundo, tendo doado, especula-se, mais de R$ 30 bilhões para projetos sociais.  A raiz desse trabalho, com foco em saúde e geração de renda, nos leva novamente ao empoderamento. Melinda lembra outra característica relacionada ao termo, a generosidade, ao ressaltar: “Enquanto eu empoderava outras mulheres, elas me empoderavam”. É um caminho sem volta.

Essas mulheres têm nome e histórias de vida também compartilhadas nas páginas do livro. Melinda cita, por exemplo, o encontro que teve com Malala – em 2014, ela se tornou a pessoa mais jovem a receber o Nobel da Paz – e destaca como a garota a inspirou a defender a educação para meninas. “Mandar as garotas para a escola é um ataque direto à crença de que o dever da mulher é servir ao homem”, ela frisa.

“Sou uma feminista convicta”

A frase demorou a sair da boca de Melinda, mas o amadurecimento – o que inclui a experiência com a maternidade e as viagens pelo mundo – a tornou inevitável: “Sou uma feminista convicta. Para mim é muito simples. Ser feminista significa acreditar que toda mulher deveria ter voz própria e buscar a realização de seu potencial.Também significa que mulheres e homens deveriam trabalhar juntos para derrubar as barreiras e os preconceitos que ainda impedem o avanço das mulheres”.

Em “O momento de voar”, Melinda apresenta detalhes sobre o começo do relacionamento com Bill – o convite dele para sair, as disputas de quebra-cabeças e jogos de matemática que costumavam fazer -, mas o foco está mesmo no caminho que une filantropia a uma preocupação genuína com as mulheres. A consciência a levou a compreender o feminismo e, enfim, o empoderamento. Claro, não se trata de uma luta isolada. Um dos primeiros grandes espantos do casal Melinda e Bill foi constatar que vacinas desenvolvidas nos Estados Unidos demoraram até 20 anos para chegar às crianças de países pobres. Após ajudar a criar a Aliança das Vacinas, Melinda realizou uma série de viagens pela fundação. Numa delas, ao Malawi, ela relata ter ficado comovida ao ver tantas mães em filas enormes para vacinar os filhos.

Outra percepção que a fez se aproximar do drama de mulheres foi compreender a importância de anticoncepcionais para as milhões que não têm acesso a eles. Aos poucos, o desejo de investir e se dedicar às mulheres ganhou corpo e voz. Ela percebeu que os direitos femininos e a saúde da sociedade melhoram juntos e que as restrições que limitam os que mulheres podem fazer por si e por seus filhos estão entre as principais causas da pobreza. O horizonte para o trabalho de uma vida estava mais evidente do que nunca: “Se você quer elevar a humanidade, empodere as mulheres. É o investimento mais amplo, universal e com maior potencial de alavancagem que podemos fazer pelo bem do ser humano”, reforça Melinda.

“Significa prestar atenção no modo como vivem”

De certa forma, os capítulos do livro acompanham os muitos caminhos feitos por Melinda e o contato dela com realidades-culturas-mulheres diferentes, alargando o impacto que elas causaram na sua vida a partir de temas como maternidade, educação, violência e trabalho.

Embora compreenda o poder da ciência e invista na pesquisa para proporcionar benefícios aos mais pobres, Melinda também entende o quão delicado é interferir minimamente em outras culturas. Isso fica claro quando ela relata uma visita a Shivgarh,  aldeia de um dos estados mais pobres da Índia, onde as mães, seguindo a orientação de um brâmane (membro da casta sacerdotal), só amamentavam os filhos após o terceiro dia de vida. Até lá, davam água aos recém-nascidos – muitas vezes, água poluída.

A mudança de comportamento exigiu um cuidadoso processo de esclarecimento diante das mulheres da comunidade, numa conduta pautada pelo respeito: “Se o amor bastasse para salvar uma vida, nenhuma mãe jamais enterraria seu bebê – a ciência também é necessária. Mas o modo de transmitir a ciência é tão importante quanto a própria ciência”.

Para encerrar, destacamos uma das reflexões de Melinda sobre o poder transformador do empoderamento feminino:

“Nós, mulheres, precisamos sair das margens e ocupar nosso lugar – não acima nem abaixo dos homens, mas ao lado deles – no centro da sociedade, acrescentando nossa voz e tomando as decisões para as quais somos qualificadas e que temos o direito de tomar.

Haverá muita resistência, mas o progresso duradouro não virá de uma luta pelo poder; virá de um apelo moral. À medida que despirmos os preconceitos de gênero de seus disfarces, mais homens e mulheres que não tinham suspeitado de sua presença vão enxergá-los e se posicionarão contra ele. É assim que mudamos as normas que escondem os preconceitos para os quais estamos cegos. Nós os vemos de frente e acabamos com eles”.

Está pronta para transformar?

Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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