Inteligência socioemocional | Sextante
Livro

Inteligência socioemocional

Augusto Cury

FERRAMENTAS PARA PAIS INSPIRADORES E PROFESSORES ENCANTADORES. 

Publicado em mais de 70 países, Augusto Cury já vendeu, só no Brasil, mais de 30 milhões de exemplares de seus livros, sendo considerado o autor brasileiro mais lido na atualidade.

 

Augusto Cury oferece aos leitores ferramentas contra algumas das piores epidemias da atualidade: a ansiedade, a solidão, a depressão e o estresse, males que acometem cada vez mais jovens.

 

Criado originalmente como um método pedagógico para ser aplicado em sala de aula – e que de fato está presente em mais de mil escolas espalhadas pelo país –, o programa Escola da Inteligência é uma ferramenta inovadora para ajudar nossos filhos e alunos a enfrentar com resiliência e criatividade os desafios da vida.

A partir dos princípios da inteligência socioemocional – ser autor da própria história, gerenciar os pensamentos, administrar e proteger a emoção, trabalhar os papéis da memória e formar mentes brilhantes –, podemos aprimorar nossas habilidades para nos tornarmos pais inspiradores e professores encantadores, mais aptos a formar indivíduos felizes e tranquilos.

Autor do clássico Pais brilhantes, professores fascinantes e consagrado como um dos maiores escritores brasileiros nas áreas de psicologia social e ciências da educação, Augusto Cury ensina como estimular nos jovens a consciência crítica, a inteligência emocional, a saúde psicossocial e o cultivo das relações interpessoais.

Informativo e transformador, este livro é o primeiro passo para uma nova geração de pensadores mentalmente livres e emocionalmente saudáveis.

 

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Ficha técnica
Lançamento 05/08/2019
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 144
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-85-431-0801-8
EAN 9788543108018
Preço R$ 49,90
Ficha técnica e-book
eISBN 9788543108025
Preço R$ 29,99
Lançamento 05/08/2019
Título original
Tradução
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 144
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-85-431-0801-8
EAN 9788543108018
Preço R$ 49,90

E-book

eISBN 9788543108025
Preço R$ 29,99

Leia um trecho do livro

Introdução

A era das trevas emocionais

 

A era da falência emocional e a lei do menor esforço

Você já ouviu falar da era das trevas? Ela ocorreu na Idade Média, período que se iniciou com o declínio do Império Romano do Ocidente, em 476, e terminou com a tomada de Constantinopla pelos turco-otomanos, em 1453. A vida social e intelectual nessa época era obscura. Milhões de seres humanos eram enclausurados em feudos, e não havia liberdade para expressar ideias, opinar e pesquisar. O medo fazia parte do dia a dia. O medo da fome, de ser ferido e escravizado sequestrava o território da emoção das crianças e dos adultos.

Infelizmente, a destruição dos direitos humanos não parou na era das trevas. O processo de coisificação do ser humano cristalizou-se, transformando as pessoas em simples objetos para executar as ordens ou satisfazer os prazeres dos senhores feudais. O Homo sapiens não era mais um ser único e complexo no teatro da existência. Viver sempre foi um contrato de risco, mas, naqueles dramáticos séculos, os riscos eram insuportáveis. Pela dramaticidade da dor emocional e social, acreditamos que a era das trevas nunca mais se desenvolveria nos solos da humanidade. Pobre convicção, ingênuo engano!

Para nossa tristeza, ela está de volta – e com uma força tremenda –, numa época em que jamais pensaríamos que isso seria possível: o século XXI, o apogeu da tecnologia digital. Retornou aos poucos, com outras roupagens, e foi ganhando impulso, causando um tsunami social. Refiro-me à era das trevas emocionais! Estamos coletivamente vivenciando a era da falência emocional e do esgotamento cerebral, algo só experimentado em campos de batalha. Mas onde está a guerra que travamos?

Em nossa mente.

Tanto como psiquiatra quanto como pesquisador do processo de construção de pensamentos e do Eu como gestor da mente humana, não creio que haja nações em qualquer lugar do planeta que estejam ou estarão livres da era das trevas emocionais, desse tsunami psíquico. As que estão livres por ora – como o pequeno Butão, país encravado na Ásia, que valoriza mais o PIF (o produto interno da felicidade) do que o PIB (o produto interno bruto) –, provavelmente logo se contaminarão. Por quê? Por causa da lei do menor esforço.

Estamos coletivamente vivenciando a
era da falência emocional e do esgotamento
cerebral, algo só experimentado em campos
de batalha. Mas onde está a guerra
que travamos? Em nossa mente.

A mente humana sempre procura atalhos, aparentemente para poupar energia, sem saber que o caminho do menor esforço não é o mais saudável. É mais fácil gritar do que ouvir, sentenciar do que se colocar no lugar dos outros. É mais fácil se conectar virtualmente nas redes sociais do que pedir desculpas, reconhecer erros, penetrar nas camadas mais profundas daqueles que amamos. É mais fácil usar armas do que o diálogo. Mas, nas relações interpessoais, os frágeis usam as armas, e os fortes, o diálogo. É muito mais fácil sermos pais comuns e educadores entediantes do que sermos pais inspiradores e professores encantadores.

A lei do menor esforço faz com que seja muito mais fácil ouvir os personagens da TV do que dialogar com personagens reais. Em festas, o som alto que asfixia a voz me causa arrepios. Usar celular na mesa do jantar é um crime emocional que centenas de milhões de famílias cometem diariamente. Você comete esse crime?

A solidão branda estimula a criatividade, mas a solidão intensa é tóxica para o Homo sapiens. Ermitãos e monges criam personalidades em suas meditações, pacientes psicóticos criam personagens em suas mentes enclausuradas. A solidão na era das redes sociais é atroz, densa, asfixiante. Como não sabemos ter um diálogo inteligente e relaxante com os outros ou até com nós mesmos, pensamos muito, mas sem qualidade. O resultado do excesso de pensamentos? Esgotamento cerebral, fadiga excessiva. Pergunte primeiramente a si e depois aos seus filhos, alunos e colaboradores se acordam cansados. A maioria dirá que sim. Milhões de pessoas gastam tanta energia mental pensando e se preocupando que o sono não mais é reparador.

A solidão na era das redes sociais é atroz, densa,
asfixiante. Como não sabemos ter um diálogo inteligente
e relaxante com os outros ou até com nós mesmos,
pensamos muito, mas sem qualidade.

Pergunte para os que estão ao seu redor se eles também cobram demais de si mesmos. A maioria dirá que sim. Ninguém gostaria de ter um gerente cobrando dia e noite uma dívida que porventura tenhamos. Todavia, somos tão complexos mentalmente que construímos um gerente que cobra uma dívida que não contraímos e que não temos como pagar. Casais, pais e professores que cobram demais de si e dos outros estão aptos a trabalhar numa financeira, mas não para ter um romance com a própria saúde emocional ou para promover a saúde mental de quem ama. Isto não é uma brincadeira. Estou falando da era das trevas emocionais. O exemplo grita mais alto, forma arquivos que estruturam as matrizes da personalidade. Honestamente falando, é raro sermos pais inspiradores e professores encantadores.

Se centenas de milhões de pais e mães vivem sob a ditadura da beleza, como vamos prevenir a autopunição e a fragmentação da autoestima? Neste exato momento, há inúmeras adolescentes se automutilando, pensando em desistir da vida ou tentando suicídio, pois não entenderam que a beleza está nos olhos do observador. Na Idade Média se escravizava o corpo; hoje, escravizamos a emoção.

Alguns editores dizem que sou o psiquiatra mais lido do planeta na atualidade. Mas eu preferiria viver em pleno anonimato e ter a certeza de que os adultos e, em destaque, os jovens, estivessem emocionalmente protegidos. Preferiria que as escolas e universidades ensinassem os alunos a serem gestores da própria emoção e autores da própria história. Mas estamos na idade da pedra em relação à gestão da emoção, que, como estudaremos, vai além da inteligência emocional, pois envolve fenômenos que estão nos bastidores da mente humana, na base da construção dos pensamentos e no processo de formação do Eu.

O Eu representa a consciência crítica e a capacidade de escolha. Ou o Eu é treinado, educado, lapidado para ser líder de si mesmo, ou será um servo e até mesmo um escravo vivendo em sociedades livres. Não há mais escravos acorrentados nos dias atuais, mas há centenas de milhões de seres humanos escravizados no território da emoção.

Esta obra é um treinamento de gestão da emoção, não um simples livro. Por isso, me desculpe, mas faço questão de ser sempre direto. Se você não tiver coragem de mapear seus fantasmas mentais, será assombrado por eles a vida toda, levará para o túmulo seus traumas e conflitos. E a grande maioria das pessoas leva. Ao mapear nossas falhas, nossos conflitos e nossas atitudes débeis no processo educacional, não devemos ser escravos do sentimento de culpa. Se seu sentimento de culpa for brando, o estimulará a corrigir rotas, mas, se for intenso, sequestrará sua capacidade de se reinventar.

Reinvente-se, pois todos somos imperfeitos. O poeta e o tosco, o altruísta e o individualista, o tolerante e o impaciente coexistem na mesma mente, habitam na minha e na sua personalidade. Muitos psicólogos, educadores e pais deveriam saber que uma pessoa impulsiva, irritadiça, fóbica ou hipersensível não é assim porque seu Eu deseja, mas porque o número de janelas killer, ou traumáticas, arquivadas no córtex cerebral é muito elevado em qualidade e intensidade. Do mesmo modo, uma pessoa afetiva, doadora, calma e resiliente é assim também devido à quantidade e à intensidade de janelas light, ou saudáveis, na matriz de sua personalidade.

Ninguém dá o que não tem. Pais exigem que seus filhos sejam tolerantes, mas eles próprios não formaram janelas saudáveis para expressar espontaneamente essa característica. Professores exigem que seus alunos sejam pacientes, mas não formaram janelas suficientes para se concentrarem e serem calmos. Portanto, educar não é apenas impor regras, corrigir erros, apontar falhas, mostrar os caminhos da ética e dos valores, mas também formar janelas light.

Reinvente-se, pois todos somos imperfeitos.
O poeta e o tosco, o altruísta e o individualista, o
tolerante e o impaciente coexistem na mesma mente,
habitam na minha e na sua personalidade.

Se falharmos nessa tarefa, falharemos como pais inspiradores e professores encantadores. Na era digital e da inteligência artificial, se você quiser ser um educador brilhante, tem de conhecer minimamente o complexo funcionamento da mente para ser um jardineiro de janelas light, um artesão do intelecto, um poeta da gestão da emoção. Se não tiver essa disposição, é melhor fechar este livro.

Mentes infelizes e doentias têm mais chances de formar filhos e alunos infelizes e traumatizados. Mentes felizes e saudáveis têm maior possibilidade de formar mentes livres, contemplativas e bem resolvidas.

 

Conhecimento é poder, mas excesso de conhecimento é lixo mental

A era das trevas emocionais, ou do esgotamento cerebral, tem muitas causas. Uma delas é o excesso de informação. Veja isto. Um jornal de grande circulação hoje tem mais informações do que as que um ser humano médio adquiria durante toda a sua vida em séculos passados. Isso não é sustentável para o cérebro humano. Falo em conferências em muitos países. É preocupante constatar, em nações tão distintas, da Romênia à Colômbia, dos Estados Unidos a Angola, a quantidade de sintomas psíquicos e psicossomáticos que as pessoas desenvolvem. Você tem cefaleia? Tem dores musculares? Tem taquicardia, hipertensão arterial ou queda de cabelo de fundo emocional? Seu cérebro está gritando através desses sintomas: “Não suporto mais! Mude seu estilo de vida!” Mas quem ouve a voz do próprio cérebro?

A era das trevas emocionais, ou do
esgotamento cerebral, tem muitas causas.
Uma delas é o excesso de informação.

Se os pais não sabem proteger o próprio cérebro, se facilmente se estressam, se não cuidam da própria saúde física e mental, como levarão os filhos a cuidar da deles? Se os professores vivem agitados e tensos, se não sabem fazer a respiração constante – uma das técnicas de ouro da gestão da emoção, pensando “minha paz vale ouro, o resto é insignificante” –, como ensinarão seus alunos a experimentar o sabor da tranquilidade e da calma?

Ao contrário da Idade Média, na era digital o conhecimento se expandiu assustadoramente. No passado, todo o conhecimento mundial duplicava a cada dois ou três séculos, mas hoje dobra a cada ano e logo dobrará a cada mês. Isso não é incrível? Mas há graves consequências! Esse conhecimento raramente se transforma em experiência, e a experiência raramente se transforma em habilidades, como pensar antes de reagir, ter empatia, autocontrole e bom humor para nosso Eu ser capaz de dirigir seu próprio script.

Conhecimento é poder! Sim, mas o excesso de conhecimento não utilizado é lixo mental, produz a síndrome do pensamento acelerado (SPA), agitação psíquica, sofrimento por antecipação, baixo limiar para suportar frustrações, fadiga física, dores de cabeça e outros sintomas.

O excesso de informação gera mentes estéreis, pois novos conhecimentos nascem nos solos das perguntas, não nas imensas planícies das respostas. As escolas e universidades em todo o globo estão viciadas em dar as respostas prontas. Intoxicam os alunos com 99% de respostas e um ínfimo 1% de perguntas. Só perguntam nas provas e raramente durante o processo de aprendizado. Não ensine o que é a força gravitacional, estimule os alunos a pensar sobre a atração dos objetos, sobre o movimento dos planetas. E depois faça a ponte do ensinamento clássico com a vida. Que força os atrai uns aos outros? Que características dos outros os repelem? De vez em quando você repele a si mesmo, tem baixa autoestima?

Desse modo, você deixará de ser só mais um professor. Será um educador encantador e descobrirá que ensinar na era digital é provocar a pensar, e não transmitir a matéria, pois isso qualquer computador medíocre com inteligência artificial fará com mais eficiência. As escolas e universidades racionalistas são mais um cemitério de pensadores do que um berçário de intelectuais. Pais que também não aprenderem a provocar os filhos com a arte das perguntas os asfixiarão, formarão mentes frágeis e engessadas mesmo que sejam psiquiatras, psicólogos, advogados, executivos.

Deixe-me fazer um parêntese sobre as teses acadêmicas. Fazer uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado sem liberdade, aventura ou questionamentos, inclusive ao próprio orientador, sem correr riscos, com tudo controlado, desde a orientação até o uso da bibliografia, com o objetivo de alcançar nota máxima com louvor é uma forma excelente de sepultar a formação de pensadores. Por isso, as grandes contribuições e inovações saem das startups, de jovens que nem universidade fizeram, caso de Steve Jobs. As universidades, se não se reinventarem, se tornarão tão obsoletas quanto a máquina de escrever.

Sempre fui crítico do formato tradicional das teses, pois minha teoria não estuda apenas o processo de construção de pensamentos, mas também de formação de pensadores. As teorias mais impactantes, como a da relatividade, a psicanálise e outras, foram produzidas fora dos muros de uma universidade. Mas um dia, quando eu não precisava mais – pois já tinha milhões de leitores e a teoria que desenvolvi, a Inteligência Multifocal, já era usada em inúmeras teses –, resolvi defender um ph.D. numa pequena e instigante universidade. No entanto, solicitei apresentar meus resultados não diante da banca de cinco examinadores, mas sim publicamente. O reitor adorou a ideia. E diante de uma plateia de seiscentas pessoas, com diversos doutores, defendi a tese Freemind, que continha um dos raros programas mundiais de prevenção de transtornos emocionais. Foi empolgante. Humildemente e sem arrogância lhes digo: as pessoas ovacionaram de pé. Hoje o programa Freemind é usado em centenas de instituições, inclusive para treinar magistrados, psicólogos e outros profissionais.

Houve um mestre há dois milênios que se tornou o homem mais famoso do mundo, cujo nascimento é o mais comemorado de todos os tempos. Ele era um professor superencantador, um especialista na arte de ensinar perguntando, provocando e usando metáforas, pois seu objetivo não era formar servos, mas freeminds, ou seja, mentes livres. Todavia, bilhões de pessoas das mais diversas religiões que o admiram não estudaram sua mente e desconhecem sua psicologia e pedagogia.

 

A síndrome predador-presa: A Idade Média e a era digital

Na Idade Média, a desnutrição física era dramática; hoje, a desnutrição emocional é espantosa. Na Idade Média, se matava com espadas; hoje, na era digital, se mata com palavras, com a crucificação da imagem, com cyberbullying. Na Idade Média, se escravizava o corpo; na era digital, a emoção. Na Idade Média, os ricos se protegiam atrás das muralhas; hoje, na era digital, ricos e pobres não têm proteção, sua emoção frequentemente tem sido terra de ninguém: um olhar atravessado infecta o dia; uma ofensa, o mês; uma traição destrói
uma vida.

Na Idade Média, os inimigos vinham de fora, eram concretos; hoje, o Homo sapiens digital, quando não tem inimigos reais, os cria em sua própria mente. Um desses inimigos é o medo do futuro, ou futurofobia. Outro extremamente comum é a glossofobia, ou o medo de falar em público, que atinge 75% da população. Você tem algum tipo de medo ou insegurança em falar para plateias?

Para entender como esse mecanismo funciona, imagine um professor portador de glossofobia. Ele sabe todo o assunto da palestra que vai dar. Essa matéria está em múltiplos arquivos em seu córtex cerebral. Todavia, ao pisar no palco e contemplar a plateia, são disparados quatro fenômenos inconscientes que leem a memória sem autorização do Eu. Esses fenômenos são importantíssimos, mas não tiveram a oportunidade de ser estudados pelos grandes teóricos da psicologia e das ciências da educação, como Freud, Jung, Skinner, Piaget, Vygotsky. Eu os chamo de copilotos do Eu.

Acompanhe meu raciocínio. Diante da plateia, o primeiro copiloto do Eu, chamado de gatilho da memória, dispara e abre as janelas do córtex cerebral, que representam o segundo copiloto. Se as janelas abertas tiverem o conteúdo da matéria, o professor vai brilhar. Todavia, se a janela aberta for killer, ou traumática, que contém o medo de falhar ou de ser rejeitado, o volume de tensão acionará o terceiro
copiloto, a âncora da memória. Assim como uma âncora fixa um na
vio num porto, a âncora da memória fixará o Eu no território do medo, fechando o circuito cerebral e, deste modo, impedindo que milhares de janelas com o conteúdo da palestra sejam acessadas.

Quando o circuito da memória se fecha através da âncora, o processo predatório continua. O quarto copiloto, o autofluxo, só conseguirá ler e reler as experiências que contêm pavor, desespero, possibilidade de dar vexame. Os quatro copilotos bloqueiam o Eu e asfixiam o raciocínio.

Toda essa reação angustiante prepara o palestrante para fugir ou lutar contra um agressor imaginário. A plateia torna-se seu predador, o seu monstro, e o professor se sentirá a presa. Portanto, a ação dos copilotos inconscientes que deveriam ajudar o Eu na tarefa de exposição do conhecimento produz mais uma dramática síndrome, a síndrome predador-presa.

 

Pais predadores de seus filhos

A síndrome predador-presa não se manifesta apenas na glossofobia ou nos outros mais de cem outros tipos de fobias, como a claustrofobia (medo de lugares fechados), a alodoxafobia (medo da opinião e da crítica dos outros), a fobia social (medo de festas, jantares, encontros), a futurofobia, etc. Ela está fortemente presente em todas as sociedades, do Ocidente ao Oriente, e surge diante das mais diversas situações estressantes entre pais e filhos, professores e alunos, entre casais e entre colegas de trabalho, causando grandes desastres emocionais.

Por exemplo, o inferno emocional está cheio de pais, mães e professores bem-intencionados. Muitos se tornam predadores dos próprios filhos e alunos tendo a melhor das intenções ao corrigi-los. Ao serem contrariados, frustrados ou confrontados, o gatilho dispara no cérebro, abre uma janela killer e a âncora fecha o circuito da memória. Os educadores, se não gerirem a própria emoção, se não fizerem a oração dos sábios – ou seja, se não pensarem antes de reagir –, elevarão o tom de voz, criticarão excessivamente, repetirão enfadonhamente a mesma correção. Eles se tornarão predadores de seus filhos e alunos, reproduzindo mecanismos primitivos presentes nas savanas africanas.

A consequência? Gerarão janelas killer neles, traumatizando-os e estimulando-os a reagir pelo fenômeno da ação-reação, do bateu-levou, contribuindo para formar jovens intolerantes, impacientes e com baixa resiliência.

Você age como predador de quem ama ou como abraçador, apostando em quem erra, elogiando-o no ato do erro para que ele abra uma janela saudável, e não uma killer? Você é capaz de baixar o tom de voz quando seu filho eleva o tom dele, ou é um educador bloqueador, especialista em gritar e querer domar o cérebro dos outros? Você encontrará em todos os capítulos deste livro inúmeras ferramentas de gestão da emoção para se tornar inspirador para seus filhos. Exercite sua mente diariamente.

Você é um pai ou mãe inspirador, capaz de
baixar o tom de voz quando seu filho eleva o tom
dele, ou é um educador bloqueador, especialista
em gritar e querer domar o cérebro dos outros?

Você é um professor encantador, capaz de ter autocontrole nos focos de tensão, que não compra o que não lhe pertence? Ou, à mínima crítica, agressividade e contrariedade dos seus alunos, já se estressa, acusa-os, expõe o erro deles publicamente? Agindo assim, você se torna um predador, e eles, a presa. Treine ser um gestor da própria emoção, como proponho nesta obra. Treine elogiar seu aluno no ato em que ele o frustra. Diga que você tem orgulho dele e que ele vai brilhar na vida. E, um momento depois, diga: “Agora, meu querido aluno, pense no seu comportamento!” Essa é uma das ferramentas que apresentamos aos professores no programa Escola da Inteligência. Sabe o que acontecerá se você der uma resposta surpreendente nos focos de tensão, se for um professor encantador? Você estimulará o biógrafo do cérebro do seu aluno, o fenômeno RAM – ou Registro Automático da Memória –, a registrar uma janela light duplo P, que tem o poder de ser inesquecível e de ser lida, relida e retroalimentada. Seu aluno nunca mais será o mesmo.

Impaciências, discussões, crises de ansiedade, ataques de raiva e inveja mostram que deixamos de ser seres pensantes, Homo sapiens, e assumimos o papel de Homo bios, instintivo, animal. Você é uma pessoa tranquila e pacificadora ou impaciente e agressiva quando é frustrada ou decepcionada?

Desconheço pessoas tranquilas que não tenham seus momentos de irritabilidade, pessoas serenas que não tenham reações impensadas, pessoas seguras que não tenham atitudes frágeis ou ainda altruístas que não bebam de vez em quando da fonte do egoísmo. Conheço muitos educadores generosos com os outros, mas que se colocam num lugar indigno de sua própria agenda, são predadores de si mesmos. A dança dos fenômenos inconscientes que leem a memória e nos transformam numa usina de pensamentos e emoções torna o psiquismo humano complexo e flutuante. Nenhum ser humano é plenamente estável, mas flutuar demais é um sintoma doentio. Oscilar entre o céu e o inferno emocional é autodestrutivo. Viver primaveras e invernos num mesmo dia ou semana é um sinal da destruição do ambiente emocional.

Vamos a alguns exemplos. Você exige demais de si mesmo? Tem a necessidade neurótica de ser perfeito? Tem dificuldade em reconhecer erros e pedir desculpas? Não é um especialista em ser empático, em se colocar no lugar dos outros e ver o que as imagens não revelam? Perde o controle quando contrariado minimamente? Se apresenta tais características, é muito provável que sua energia psíquica flutue excessiva e perigosamente, levando-o a se tornar predador dos seus filhos quando eles o decepcionam ou se sentir presa deles quando fazem birras, cobram demais ou chantageiam. E quem não fez birras ou pequenas chantagens quando criança? Eu discutia muito com meu pai durante a infância e a adolescência. Não suportava seu autoritarismo. Os anos se passaram, e me tornei seu melhor amigo. Por favor, em vez de se frustrar com seus filhos, por que não se lembra de como você era e os ensina a barganhar, a negociar, a lidar com a ansiedade deles?

A emoção de muitos professores também flutua de forma exagerada. A paciência e a explosão emocional estão muito próximas. Professores são especialistas em comprar o que não lhes pertence. Não suportam ser desafiados ou contrariados, como se tivessem sido santos na juventude. Muito provavelmente machucaram muitos adultos durante a infância. Mas nossa memória é curta.

Professores de ensino infantil, fundamental, médio ou universitário, em todo o planeta racionalista, não aprenderam quase nada sobre os bastidores da mente humana. Dei a aula inaugural em duas faculdades de medicina este ano, uma pública e outra particular, e nelas comentei que os mestres não sabem proteger minimamente a própria emoção nos focos de tensão, acionando o gatilho da memória, o primeiro copiloto do Eu, para encontrar as janelas light em seu cérebro e, assim, libertar a criatividade. Quando contrariados pelos alunos, pelo parceiro ou parceira, ou mesmo pelos colegas de trabalho, agem como se estivessem numa savana emocional, prestes a serem devorados. Seu Eu não raciocina. Não entendem que quem é ansioso, inquieto ou irritante está sofrendo, precisa de seu abraço e de sua inteligência inspiradora, não de seu julgamento. Será que não dá para entender isso? O que queremos? Domar o cérebro dos alunos ou formar mentes livres?

Pais e professores comuns, por desconhecerem técnicas de gestão da emoção, são especialistas em fazer seus filhos e alunos encontrarem o que têm de pior nos solos da mente, retroalimentando os consultórios de psiquiatria e psicologia clínica. Pais e professores encantadores são peritos em levá-los a encontrar o que têm de melhor através das ferramentas de gestão da emoção. A educação tem de ser humanista. Ela não deve formar máquinas de estudar e aprender, seres humanos destrutivos e autodestrutivos, mas pensadores altruístas, generosos com a vida. Que tipo de educador você escolhe ser?

 

A importância da gestão da emoção

Einstein, Freud, Jung, Paulo Freire, Piaget, Thomas Edison, Descartes, Kant, Gandhi, Mandela, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros foram mentes brilhantes. Mas o que eles tiveram em comum? O que foi incorporado em suas personalidades que os levou a romper o cárcere da rotina e produzir novas ideias, atitudes ímpares e comportamentos notáveis? Será que foi apenas a inteligência lógico-linear? Não. Eles desenvolveram muito mais do que um raciocínio lógico e uma boa memória. Lapidaram e trabalharam também, ainda que inconscientemente, algumas habilidades da inteligência socioemocional que comentaremos ao longo deste livro, como o raciocínio multiangular, um notável senso de observação, a capacidade de se reinventar, de pensar a médio e longo prazo, de perceber as necessidades dos outros, de trabalhar perdas e frustrações, de reciclar falsas crenças. Eles ainda foram generosos, tolerantes, ousados, disciplinados, indagadores, carismáticos, empáticos, sonhadores.

Todas essas habilidades são fundamentais para o sucesso emocional, social e profissional do ser humano. Na atualidade, temos produzido muito conhecimento técnico, mas pouco se fala sobre prevenção de transtornos emocionais. Esperamos as pessoas adoecerem psiquicamente para depois tratá-las. Um erro crasso. A humanidade só deu um grande passo a partir da produção das vacinas. E quais são as vacinas na psiquiatria, na psicologia e na psicopedagogia?

Em conferências recentes perguntei às pessoas na Cidade do México, em Bogotá e em Dubai: “Quem tem algum tipo de seguro?” Praticamente todos levantaram a mão. Em seguida indaguei: “Quem tem seguro emocional?” Ninguém ousou se manifestar. Foram sinceros. Quase ninguém atenta para o fato de que, sem aprender a ter seguro emocional ou proteger a mente, os ricos se tornarão miseráveis; os intelectuais adoecerão, pois pequenas contrariedades furtarão sua tranquilidade; os líderes não conseguirão liderar a sociedade, pois não serão líderes de si mesmos. A vida é bela e breve como gotas de orvalho, que por instantes aparecem e logo se dissipam aos primeiros raios de sol. Por ser tão bela e, ao mesmo tempo, tão breve, devemos proteger a vida de maneira digna e inteligente. Você sabe protegê-la?

Como discorro em muitos de meus livros, em nossa jornada existencial devemos entender que os maiores inimigos que sabotam nossa inteligência e nossa qualidade de vida não estão fora, mas dentro de nós. Um ser humano é verdadeiramente grande quando se torna um eterno aprendiz para crescer de forma sustentável. Como? Mapeando sua história, reciclando seus erros e conflitos, superando sua necessidade neurótica de ser perfeito, crescendo diante da dor, gerenciando seu estresse, tendo metas claras.

Em nossa jornada existencial devemos entender que os maiores inimigos que sabotam nossa inteligência e nossa qualidade de vida não estão fora, mas dentro de nós. Um ser humano é verdadeiramente grande quando se torna
um eterno aprendiz para crescer de forma sustentável.

Poucas pessoas sabem disso e, por esse motivo, a mente de muitas delas está adoecendo. Vejamos alguns paradoxos das sociedades atuais que exemplificam bem essa realidade:

1. O humor triste e a angústia estão aumentando. A indústria do lazer está em franca expansão. Nunca tivemos uma fonte tão vasta de estímulos para excitar a emoção como na atualidade. A indústria da moda, os parques temáticos, os jogos esportivos, a internet, a televisão, os estilos musicais e a literatura explodiram nas últimas décadas. Portanto, era de esperar que nossa geração vivesse o mais intenso oásis de prazer e tranquilidade – mas nos enganamos. Jamais fomos tão tristes e inseguros. Muitas pessoas precisam de inumeráveis estímulos para sentir migalhas de prazer. O que está acontecendo? Quem deseja ter uma mente livre deve fazer questionamentos profundos. Todo ano, um milhão de pessoas se suicidam – e 10 milhões tentam e felizmente não conseguem. Esse é um número muito maior do que as mortes provocadas anualmente pelas guerras vigentes.

2. A solidão está crescendo. As sociedades estão adensadas. No começo do século XX, éramos pouco mais de um bilhão de pessoas. Hoje, só a China e a Índia têm, cada uma, mais de um bilhão de habitantes. Por vivermos tão próximos fisicamente, pensávamos que a solidão seria estancada – mas nos enganamos novamente. A solidão nos contaminou. As pessoas estão sós no ambiente de trabalho, em casa, nas ruas, nas praças. Estão sós no meio da multidão.

3. O diálogo está morrendo. Muitos só conseguem falar de si mesmos quando estão diante de um psiquiatra ou psicólogo. Pais e filhos não compartilham suas histórias, raramente trocam experiências de vida. A família moderna está se tornando um grupo de estranhos. Todos vivem ilhados em seu próprio mundo. Metade dos pais jamais conversou com os filhos sobre suas lágrimas, seus medos, suas angústias e seus pesadelos. Nas empresas e nas escolas, as pessoas estão próximas fisicamente, mas distantes interiormente. Perdas, angústias, medos e conflitos quase nunca são verbalizados. Oitenta por cento das pessoas têm sintomas de timidez, e muitas delas são ótimas para os outros, mas costumam ser carrascas de
si mesmas.

A família moderna está se tornando um grupo de estranhos. Todos vivem ilhados em seu próprio mundo.

4. As discriminações chegaram a patamares insuportáveis. Infelizmente, nos dividimos, discriminamos e excluímos de múltiplas formas. Não honramos o espetáculo das ideias, nossa capacidade de pensar, o fascinante funcionamento da mente humana. Não poucas vezes, o que mais perturba não é a discriminação imposta pelos outros, mas sim a autodiscriminação. Você se autodiscrimina ou se diminui? E quanto à sociedade, sente que as pessoas olham para você com preconceito? Esse preconceito o machuca muito ou pouco? Já chorou ou se revoltou por causa disso?

5. A qualidade de vida está se deteriorando. Quanto pior for a qualidade da educação, mais importante será o papel da psiquiatria no terceiro milênio. Apesar dos avanços da medicina, da psicologia e da psiquiatria, o normal tem sido ser ansioso e estressado, e o anormal tem sido ser tranquilo e relaxado. De acordo com o Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, metade das pessoas cedo ou tarde desenvolverá um transtorno psíquico. Um número assustador.

É cada vez mais evidente a necessidade de adquirir ferramentas de gestão da emoção para ajudar na construção de relações sociais saudáveis, para educar o Eu como gestor do intelecto e prevenir transtornos psíquicos – como ansiedade, fobias, timidez, agressividade, autopunição e dependência de álcool e drogas. Compartilharei com você nestas páginas algumas dessas ferramentas.

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Augusto Cury

Sobre o autor

Augusto Cury

AUGUSTO CURY é psiquiatra, cientista, pesquisador e escritor. Publicado em mais de 70 países, já vendeu, só no Brasil, 30 milhões de exemplares de seus livros, sendo considerado o autor brasileiro mais lido na atualidade. Seu livro O vendedor de sonhos foi adaptado para o cinema pela Warner/Fox. O próximo título a ganhar as telonas será O futuro da humanidade. Entre seus sucessos estão O futuro da humanidade; O homem mais inteligente da história; O homem mais feliz da história; O maior líder da história; Pais brilhantes, professores fascinantes e Nunca desista dos seus sonhos. Cury é autor da Teoria da Inteligência Multifocal, que trata do complexo processo de construção de pensamentos, dos papéis da memória e da construção do Eu. Também é criador da Escola da Inteligência, o primeiro programa mundial de gestão da emoção para crianças e adolescentes e o maior programa de educação socioemocional da atualidade, com mais de 400 mil alunos.

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